Friday, 7 October 2011

Mitologias [scroll down for English]


ADRIANO COSTA / ALEXANDRE DA CUNHA / BARBARA WAGNER / BETO SHWAFATY / CARLA ZACCAGNINI / CINTHIA MARCELLE / CRIS FARIA / CRISTIANO LENHARDT / DEYSON GILBERT & ROBERTO WINTER / ERIKA VERZUTTI / JONATHAS DE ANDRADE / MARCELLVS L. / MARCIUS GALAN / MARINA RHEINGANTZ / PABLO LEÓN DE LA BARRA / PAULO NAZARETH / PEDRO WIRZ / RODRIGO BRAGA / RODRIGO MATHEUS / TAMAR GUIMARÃES / THEO CRAVEIRO / TONICO LEMOS AUAD.



Na última década, a arte contemporânea brasileira alcançou uma projeção internacional inédita em sua história. Foi precisamente neste período que algumas das mais renomadas instituições em países como Estados Unidos, França e Inglaterra apresentaram exposições retrospectivas individuais de artistas históricos como Lygia Clark (Nantes, 2005), Cildo Meireles (Londres, 2008) e Hélio Oiticica (Houston e Londres, 2007). A arte contemporânea brasileira também foi tema de importantes mostras coletivas e festivais, como Tropicália, com curadoria de Carlos Basualdo, que foi apresentada em Chicago, Nova York e Londres (2006).
O crescente interesse internacional pela arte brasileira se refletiu ainda nas grandes feiras de arte internacionais, como ARCO, em Madri e Frieze, em Londres, que hoje contam com uma dezena de exibidores brasileiros. Também dentre as galerias européias e norte americanas vimos aumentar notavelmente a representação de artistas brasileiros. Nesta mesma década, o Brasil atingiu uma estabilidade econômica sem precedentes, ao mesmo tempo em que Europa e Estados Unidos atravessam um período de crise, o que sem dúvida contribuiu imensamente para o crescente interesse pela cultura brasileira.
O Brasil vive hoje um surto de desenvolvimento comparável ao seu crescimento nas décadas de 50 e 60. Foi precisamente neste período de grande efervescência cultural no país que floresceram movimentos, teorias e expressões artísticas nos mais diversos campos do saber, que acabaram se tornando paradigmáticos da cultura brasileira tal como é conhecida internacionalmente hoje: a arquitetura de Niemeyer e Bo Bardi, os experimentos artísticos de Clark, Oiticica e Pape, o método Paulo Freire de educação, a bossa nova, entre muitos outros.
No atual contexto, onde os artistas brasileiros mais estabelecidos estão razoavelmente bem representados pelas grandes instituições internacionais, há um espaço institucional a ser preenchido pela produção dos artistas brasileiros emergentes, que continua ainda pouco disseminada. Um dos objetivos da exposição “Mitologias” é oferecer uma amostra desta jovem produção, levantando questões relevantes sobre a posição da arte brasileira no circuito internacional hoje, quando o Brasil vive um momento de prosperidade econômica tão significativo quanto nas décadas de 50 e 60.
Com um título emprestado do célebre livro do autor francês, Roland Barthes, a exposição “Mitologias” parte do questionamento sobre identidade e hibridismo cultural que se encontra no cerne do modernismo brasileiro, e pretende criar uma reflexão sobre quais foram os processos que levaram a arte brasileira a se tornar hoje uma referência internacional. Numa “inversão de papéis”, a arte brasileira agora é “canibalizada” pelos artistas estrangeiros, que se apropriam de seu simbolismo, de suas estratégias e de sua estética.
A presente seleção de artistas e obras foi pautada pelos interesses particulares desses artistas em revisitar e interpretar as diversas mitologias e clichês associados à cultura brasileira com um olhar contemporâneo, retomando e atualizando conceitos fundamentais de nossa modernidade, criando imagens míticas a partir de experiências contemporâneas ou desmistificando imagens folclóricas e explorando a vastidão e heterogeneidade do território brasileiro. Assim, um corpo de obras em Mitologias revisita e reinterpreta nosso legado artístico antropofágico e abstrato-geométrico. Outros trabalhos apontam para noções de territorialidade e geografia, relacionando-se com paisagens, arquiteturas e personagens específicos de diferentes lugares. Há ainda obras que discutem mais especificamente aspectos políticos e econômicos, atravessando o arco temporal que separa os dois grandes períodos de desenvolvimento brasileiro, de 1950/60 e 2000/10.
Assim, o partido curatorial não propõe um recorte geracional, que busque identificar de forma exaustiva, em uma única mostra coletiva, uma nova arte contemporânea brasileira. Pelo contrário, a intenção da mostra é incluir obras de artistas de gerações e regiões geográficas distintas que abordam temas ligados a uma das centenas de mitologias associadas a cultura brasileira. Buscou-se, ainda, formar um grupo heterogêneo que fosse representativo das várias regiões do país, incluindo ainda artistas os brasileiros radicados no exterior, um grupo em constante expansão e cujo trabalho se torna cada vez mais significativo para um entendimento da arte brasileira hoje.


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In the last decade, contemporary Brazilian art has achieved an international prominence that is unheard-of in its history.  It has been in this period that some of the most renowned institutions in countries such as the United States, France and England have held retrospective individual exhibitions for historic artists such as Lygia Clark (Nantes, 2005), Cildo Meireles (London, 2008) and Hélio Oiticica (Houston and London, 2007). Contemporary Brazilian art was also the theme of important group exhibitions and festivals such as Tropicália, curated by Carlos Basualdo, which was presented in Chicago, New York and London (2006).

       
Growing international interest in Brazilian art was also apparent in the major international art fairs such as ARCO in Madrid and Frieze in London, which today feature several Brazilian exhibitors. The presence of Brazilian artists also increased noticeably among the European and North American galleries. In this same decade, Brazil reached an unprecedented economic stability, whilst Europe and the United States are facing a period of crisis, which undoubtedly contributed hugely to the growing interest in Brazilian culture.

Today, Brazil is experiencing a development boom comparable to its growth in the 1950s and 60s. It was precisely in this period of significant cultural effervescence in the country that artistic movements, theories and expressions flourished in various fields of knowledge, which ultimately became representative of Brazilian culture as it is internationally known today: the architecture of Niemeyer and Bo Bardi, the artistic experiments of Clark, Oiticica and Pape, the Paulo Freire method of education, the bossa nova, among many others.

In the current context, where the more established Brazilian artists are reasonably well represented by the major international institutions, there is an institutional space to be filled by the work of emerging Brazilian artists, which still has limited exposure. One of the aims of the exhibition ‘Mythologies’ is to present a sample of this young work, raising relevant questions on the position of Brazilian art on the international circuit today, at a time when Brazil is experiencing a period of economic prosperity as significant as that of the 1950s and 60s.

The exhibition ‘Mythologies’, which borrows its title from Roland Barthes’ renowned book, takes as a starting point issues relating to identity and cultural hybridism which are at the heart of Brazilian modernism, reflecting upon the processes that led Brazilian art to achieve international recognition today. In a ‘role-reversal’, Brazilian art is now ‘cannibalised’ by foreign artists who appropriate its symbolism, its strategies and its aesthetics.

The artists included in this exhibition have a particular interest in revisiting and reinterpreting the various mythologies and clichés associated with Brazilian culture, recapturing and updating concepts that are fundamental to our modernity, creating mythical images based on contemporary experiences or demystifying folkloric images and exploring the expanse and heterogeneity of the Brazilian territory. Thus, a body of works in Mythologies revisits and reinterprets our anthropophagic and abstract-geometric artistic legacy. Other works highlight territorial and geographical concepts, connecting with landscapes, architecture and specific characters from different places. There are also works that look more specifically at political and economic aspects, crossing the timespan that separates the two major periods of Brazilian development, 1950/60 and 2000/10.

As such, ‘Mythologies’ does not propose a generational selection that seeks to exhaustively identify a ‘new contemporary Brazilian’ art brought together in a group show. On the contrary, the exhibition aims to include works by artists from different generations and geographical regions that cover topics related to one of the hundreds of mythologies associated with Brazilian culture. An attempt was also made to create a heterogeneous group that included artists from the various regions of the country as well as those living abroad - a group that is constantly expanding and whose work is becoming increasingly important for an understanding of Brazilian art today.

This project was initiated by the Brazilian Embassy in Paris.

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