ADRIANO COSTA / ALEXANDRE DA CUNHA / BARBARA WAGNER / BETO SHWAFATY / CARLA ZACCAGNINI / CINTHIA MARCELLE / CRIS FARIA / CRISTIANO LENHARDT / DEYSON GILBERT & ROBERTO WINTER / ERIKA VERZUTTI / JONATHAS DE ANDRADE / MARCELLVS L. / MARCIUS GALAN / MARINA RHEINGANTZ / PABLO LEÓN DE LA BARRA / PAULO NAZARETH / PEDRO WIRZ / RODRIGO BRAGA / RODRIGO MATHEUS / TAMAR GUIMARÃES / THEO CRAVEIRO / TONICO LEMOS AUAD.
Na última década, a arte contemporânea brasileira alcançou uma projeção
internacional inédita em sua história. Foi precisamente neste período que
algumas das mais renomadas instituições em países como Estados Unidos, França e
Inglaterra apresentaram exposições retrospectivas individuais de artistas
históricos como Lygia Clark (Nantes, 2005), Cildo Meireles (Londres, 2008) e
Hélio Oiticica (Houston e Londres, 2007). A arte contemporânea brasileira
também foi tema de importantes mostras coletivas e festivais, como Tropicália, com curadoria de Carlos
Basualdo, que foi apresentada em Chicago, Nova York e Londres (2006).
O crescente interesse internacional pela arte brasileira se refletiu
ainda nas grandes feiras de arte internacionais, como ARCO, em Madri e Frieze,
em Londres, que hoje contam com uma dezena de exibidores brasileiros. Também
dentre as galerias européias e norte americanas vimos aumentar notavelmente a
representação de artistas brasileiros. Nesta mesma década, o Brasil atingiu uma
estabilidade econômica sem precedentes, ao mesmo tempo em que Europa e Estados
Unidos atravessam um período de crise, o que sem dúvida contribuiu imensamente
para o crescente interesse pela cultura brasileira.
O Brasil vive hoje um surto de desenvolvimento comparável ao seu
crescimento nas décadas de 50 e 60. Foi precisamente neste período de grande
efervescência cultural no país que floresceram movimentos, teorias e expressões
artísticas nos mais diversos campos do saber, que acabaram se tornando
paradigmáticos da cultura brasileira tal como é conhecida internacionalmente
hoje: a arquitetura de Niemeyer e Bo Bardi, os experimentos artísticos de
Clark, Oiticica e Pape, o método Paulo Freire de educação, a bossa nova, entre
muitos outros.
No atual contexto, onde os artistas brasileiros mais estabelecidos estão
razoavelmente bem representados pelas grandes instituições internacionais, há
um espaço institucional a ser preenchido pela produção dos artistas brasileiros
emergentes, que continua ainda pouco disseminada. Um dos objetivos da exposição
“Mitologias” é oferecer uma amostra desta jovem produção, levantando questões
relevantes sobre a posição da arte brasileira no circuito internacional hoje, quando
o Brasil vive um momento de prosperidade econômica tão significativo quanto nas
décadas de 50 e 60.
Com um título emprestado do célebre livro do autor francês, Roland
Barthes, a exposição “Mitologias” parte do questionamento sobre identidade e
hibridismo cultural que se encontra no cerne do modernismo brasileiro, e
pretende criar uma reflexão sobre quais foram os processos que levaram a arte
brasileira a se tornar hoje uma referência internacional. Numa “inversão de
papéis”, a arte brasileira agora é “canibalizada” pelos artistas estrangeiros, que
se apropriam de seu simbolismo, de suas estratégias e de sua estética.
A presente seleção de artistas e obras foi pautada pelos interesses
particulares desses artistas em revisitar e interpretar as diversas mitologias
e clichês associados à cultura brasileira com um olhar contemporâneo, retomando
e atualizando conceitos fundamentais de nossa modernidade, criando imagens
míticas a partir de experiências contemporâneas ou desmistificando imagens
folclóricas e explorando a vastidão e heterogeneidade do território brasileiro.
Assim, um corpo de obras em Mitologias
revisita e reinterpreta nosso legado artístico antropofágico e
abstrato-geométrico. Outros trabalhos
apontam para noções de territorialidade e geografia, relacionando-se com
paisagens, arquiteturas e personagens específicos de diferentes lugares. Há
ainda obras que discutem mais especificamente aspectos políticos e econômicos,
atravessando o arco temporal que separa os dois grandes períodos de
desenvolvimento brasileiro, de 1950/60 e 2000/10.
Assim, o partido curatorial não propõe um recorte geracional, que busque
identificar de forma exaustiva, em uma única mostra coletiva, uma nova arte
contemporânea brasileira. Pelo contrário, a intenção da mostra é incluir obras
de artistas de gerações e regiões geográficas distintas que abordam temas
ligados a uma das centenas de mitologias associadas a cultura brasileira.
Buscou-se, ainda, formar um grupo heterogêneo que fosse representativo das
várias regiões do país, incluindo ainda artistas os brasileiros radicados no
exterior, um grupo em constante expansão e cujo trabalho se torna cada vez mais
significativo para um entendimento da arte brasileira hoje.
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In the
last decade, contemporary Brazilian art has achieved an international
prominence that is unheard-of in its history. It has been in this period that some of the most renowned
institutions in countries such as the United States, France and England have held
retrospective individual exhibitions for historic artists such as Lygia Clark
(Nantes, 2005), Cildo Meireles (London, 2008) and Hélio Oiticica (Houston and London, 2007). Contemporary
Brazilian art was also the theme of important group exhibitions and festivals
such as Tropicália,
curated by Carlos Basualdo, which was presented in Chicago, New York and London
(2006).
Growing international interest in Brazilian art
was also apparent in the major international art fairs such as ARCO in Madrid
and Frieze in London, which today feature several Brazilian exhibitors. The
presence of Brazilian artists also increased noticeably among the European and
North American galleries. In this same decade, Brazil reached an unprecedented
economic stability, whilst Europe and the United States are facing a period of
crisis, which undoubtedly contributed hugely to the growing interest in
Brazilian culture.
Today, Brazil is experiencing a development
boom comparable to its growth in the 1950s and 60s. It was precisely in this
period of significant cultural effervescence in the country that artistic
movements, theories and expressions flourished in various fields of knowledge,
which ultimately became representative of Brazilian culture as it is
internationally known today: the architecture of Niemeyer and Bo Bardi, the
artistic experiments of Clark, Oiticica and Pape, the Paulo Freire method of
education, the bossa nova, among many others.
In the current context, where the more
established Brazilian artists are reasonably well represented by the major
international institutions, there is an institutional space to be filled by the
work of emerging Brazilian artists, which still has limited exposure. One of
the aims of the exhibition ‘Mythologies’ is to present a sample of this young
work, raising relevant questions on the position of Brazilian art on the
international circuit today, at a time when Brazil is experiencing a period of
economic prosperity as significant as that of the 1950s and 60s.
The exhibition ‘Mythologies’, which borrows its title from Roland
Barthes’ renowned book, takes as a starting point issues relating to identity
and cultural hybridism which are at the heart of Brazilian modernism,
reflecting upon the processes that led Brazilian art to achieve international
recognition today. In a ‘role-reversal’, Brazilian art is now ‘cannibalised’ by
foreign artists who appropriate its symbolism, its strategies and its
aesthetics.
The artists included in this exhibition have a
particular interest in revisiting and reinterpreting the various mythologies
and clichés
associated with Brazilian culture, recapturing and updating concepts that are
fundamental to our modernity, creating mythical images based on contemporary
experiences or demystifying folkloric images and exploring the expanse and
heterogeneity of the Brazilian territory. Thus, a body of works in Mythologies revisits and reinterprets
our anthropophagic and abstract-geometric artistic legacy. Other works
highlight territorial and geographical concepts, connecting with landscapes,
architecture and specific characters from different places. There are also
works that look more specifically at political and economic aspects, crossing
the timespan that separates the two major periods of Brazilian development,
1950/60 and 2000/10.
As such, ‘Mythologies’ does not propose a
generational selection that seeks to exhaustively identify a ‘new contemporary
Brazilian’ art brought together in a group show. On the contrary, the
exhibition aims to include works by artists from different generations and
geographical regions that cover topics related to one of the hundreds of
mythologies associated with Brazilian culture. An attempt was also made to
create a heterogeneous group that included artists from the various regions of
the country as well as those living abroad - a group that is constantly
expanding and whose work is becoming increasingly important for an
understanding of Brazilian art today.
This project
was initiated by the Brazilian Embassy in Paris.